QUEM É VOCÊ QUANDO A GIRA TERMINA?
- Flavio Santana de paula
- 30 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Essa é uma pergunta que ressoa como um eco nos corações de quem caminha pela espiritualidade, especialmente nos dias de hoje. Durante a gira, somos tocados pelo axé, pela força dos Orixás e pela sabedoria das entidades. Sentimos a vibração da luz, da cura e do amor. Mas, quando os atabaques silenciam, as velas se apagam e o terreiro esvazia, surge o verdadeiro desafio: quem somos quando voltamos à vida cotidiana?
Nos tempos modernos, é fácil se perder na desconexão. O ritmo frenético da sociedade, as redes sociais e as demandas do mundo material muitas vezes nos afastam da essência espiritual que experimentamos no terreiro. Vivemos uma espiritualidade que, às vezes, se limita ao espaço sagrado e não transborda para as nossas ações diárias.
Muitos pregam o amor, a caridade e o respeito enquanto estão em comunhão com as entidades, mas fora dali reproduzem comportamentos intolerantes, julgamentos e até ações egoístas. Isso não é exclusividade de uma religião; é um reflexo da dificuldade humana de alinhar discurso e prática, crença e atitude.
Mas a espiritualidade verdadeira vai além do ritual. Ela está presente no modo como tratamos as pessoas, na forma como lidamos com os desafios, nas escolhas que fazemos quando ninguém está olhando. A Umbanda, com seus princípios de caridade, humildade e amor ao próximo, nos ensina que não basta vivenciar o sagrado na gira — precisamos carregá-lo dentro de nós a cada passo que damos.
Ser espiritualizado não é apenas vestir o branco ou saudar os Orixás. É ter coerência entre o que aprendemos nas giras e o que praticamos na vida. É respeitar o próximo, ajudar quem precisa, cuidar do ambiente e cultivar a paz interior. É saber que a gira não termina quando saímos do terreiro, mas continua em nossas atitudes.
Que possamos refletir: quem somos quando a gira termina? Que sejamos capazes de levar o axé para além dos rituais, fazendo de cada ação um reflexo do que aprendemos no terreiro. Afinal, a verdadeira conexão espiritual não se mede pelo que fazemos durante os ritos, mas pelo que nos tornamos quando eles acabam.
Texto: Flavio Santana
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